O Índice Omie de Desempenho Econômico (IODE) das Pequenas e Médias Empresas (PMEs), indica que a movimentação financeira real média das pequenas e médias empresas brasileiras registrou expansão de 1,9% em 2022.
O índice funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, feito com base no monitoramento de 692 atividades econômicas, que compõem cinco grandes setores: Agropecuário, Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços. Segundo o gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, Felipe Beraldi, o mercado de PMEs foi favorecido em 2022 devido um maior controle da pandemia de covid-19 e os consequentes efeitos mais moderados na economia, em comparação ao observado no biênio 2020-2021.
“Além disso, incentivos fiscais, como a manutenção e ampliação do Auxílio Brasil, foram determinantes na sustentação do consumo, em meio a um mercado de trabalho em recuperação e à trajetória de alta da taxa básica de juros para conter a inflação”, explica.
Do ponto de vista setorial, o crescimento do IODE-PMEs em 2022 foi condicionado pelo avanço da movimentação financeira real no Comércio (+5,5% frente a 2021), na Indústria (+2,1%) e no setor Agropecuário (+16,7%), sendo que parte do crescimento neste último segmento reflete a fraca base de comparação do ano anterior.
No Comércio, o crescimento foi puxado pelo avanço das PMEs do setor varejista (+7,6% ante 2021), enquanto o segmento atacadista avançou de modo mais modesto (+5,9%). Por outro lado, o segmento de ‘comércio e reparação de veículos’ encerrou o ano apresentando retração (-6,7%).
Já na Indústria, o crescimento das pequenas e médias empresas foi condicionado pela retomada de alguns segmentos de transformação, como produtos químicos, têxteis, fabricação de autopeças e preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados.
O setor de Serviços, por sua vez, também avançou em 2022, ainda que discretamente (+0,9% ante 2021). A respeito dos principais segmentos, os destaques positivos em 2022 foram os serviços de ‘alojamento e alimentação’, educação e ‘atividades financeiras e serviços relacionados’.
A recuperação do setor de Serviços ficou mais evidente a partir do segundo semestre de 2021, especialmente com um controle maior da covid-19 no país e a volta da prestação deserviços presenciais. De toda forma, nos últimos meses, o segmento já tem apresentado os efeitos de um ambiente macroeconômico mais adverso, com subida de juros e queda da confiança do consumidor.
Por conta disso, após um primeiro semestre ainda no campo positivo, as PMEs do setor desaceleraram nos últimos meses, tendo encerrado o quarto trimestre de 2022 com ligeira queda (-0,3%, segundo dados do IODE-Serviços).
O único setor das PMEs que apresentou retração em 2022 foi o de Infraestrutura (-0,9% ante 2021). Na construção civil, houve continuidade do crescimento do segmento de ‘Serviços especializados para a construção’ registrada nos últimos anos, abrindo espaço para diversos serviços especializados que são auxiliares de pequenas e médias empresas.
Por outro lado, a atividade de ‘Construção de edifícios’, voltou a apresentar retração, possivelmente refletindo os efeitos do aumento da taxa básica de juros no decorrer do ano anterior. Além disso, também foi observada retração no segmento de ‘Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação’.
O IODE-PMEs também permite a avaliação do mercado de modo regionalizado. Por esse ângulo, observamos que o crescimento das PMEs em 2022 foi sustentado pelo avanço dos negócios nas regiões Sudeste (+4,3% ante 2021), Sul (+6,1%) e Centro-Oeste (+7,9%). Por outro lado, houve retração da movimentação financeira real média nas regiões Nordeste (-2,1% ante 2021) e Norte (-10,3%).
Empreendedores enfrentarão novos desafios em 2023
De modo geral, o mercado espera uma desaceleração da atividade econômica brasileira em 2023 , o que já vem sendo apontado pelos indicadores de alta frequência nos últimos meses, inclusive pelo IODE-PMEs, que mostrou relevante perda de fôlego no último trimestre de 2022.
Segundo o boletim Focus do Banco Central, a média das estimativas do mercado indica crescimento de +0,8% do PIB brasileiro em 2023, após expectativa de +3% em 2022.
O principal componente do cenário são as incertezas relacionadas com a condução da política fiscal no país.
“Diante da posse da nova equipe econômica, o mercado assiste com cautela os detalhes do plano de equilíbrio fiscal do governo, em meio ao anúncio de expansão de gastos. Apesar de se tratar de uma questão macroeconômica que, muitas vezes, parece distante de um pequeno empreendedor, os efeitos de uma política não responsável podem ter reflexos rápidos sobre toda a economia”, ressalta Beraldi.
O efeito mais imediato deste contexto é o aumento das expectativas de inflação dos agentes e, consequentemente, a postergação da inversão da taxa básica de juros, instrumento do Banco Central para controle da inflação. Encargos mais elevados encarecem a tomada de crédito, penalizando a evolução do consumo e dos investimentos, com reflexo direto sobre os negócios das PMEs.
Mesmo que em desaceleração, a atividade econômica brasileira deve manter a expansão no curto prazo, reflexo do impulso fiscal com a manutenção do pagamento dos auxílios de renda e da recuperação da massa de renda real do trabalho, uma combinação da melhora do mercado de trabalho com as pressões inflacionárias um pouco mais contidas nos últimos meses, mesmo com o cenário econômico global conturbado.
O IODE-PMEs indica um crescimento de 1,5% em 2023, com perspectivas positivas, especialmente para as atividades dos setores Agropecuário, Comércio e Serviços. Por outro lado, as taxas de juros elevadas devem impedir um crescimento mais substancial do consumo das famílias, com reflexos diretos sobre o Comércio e os Serviços.
Assim, a tendência de desaceleração já observada no IODE-Serviços nos últimos meses tende a se consolidar no curto prazo, enquanto o IODE-Comércio também deve passar a mostrar taxas de crescimento mais modestas a partir do primeiro trimestre de 2023.
“Diante do cenário econômico desafiador em todo o mundo no contexto pós-pandemia, é de suma importância que a nova equipe econômica apresente um plano de equilíbrio fiscal com regras claras, que aumentem a estabilidade e a previsibilidade nos campos político e econômico. Além disso, a aprovação de uma reforma tributária eficiente, que simplifique e distribua a carga de modo justo, também tem potencial para acelerar o crescimento econômico do país nos próximos anos”, afirma o especialista.
Portal Contábeis: Fonte: Omie e Nova RP